Trump: Um cabo eleitoral da esquerda?

Quando Donald Trump foi eleito novamente Presidente dos Estados Unidos, em novembro do ano passado, a direita mundial comemorou. Era a maior potência voltando a ser governada por um correligionário, o que poderia representar um apoio acelerador para as forças direitistas planeta afora. Contudo, enquanto a nova gestão de Trump segue sendo aplaudida pelos aliados mais próximos do chefe da Casa Branca, ela não parece estar sendo positiva para a direita internacional.

Focando em sua agenda da América em primeiro lugar, Trump faz um início de gestão bastante nacionalista e protecionista. Ele afirma estar apenas defendendo o seu país, mas atinge o livre comércio e as outras nações. Sob o pretexto de reciprocidade, os “tarifaços” restringem a livre circulação de mercadorias, desmontam cadeias produtivas e contrariam os ideais dos que creem que o “mundo livre” é desejável e inevitável. 

O trumpismo não apenas decepciona a direita liberal e os mercados, que o apoiaram contra Kamala Harris. Ele também gera prejuízos para outros países e povos que, a partir dessa nova ordem mundial, temem por sua balança comercial, seus empregos e, consequentemente, sua qualidade de vida. 

Nesse sentido, o revanchismo da população em outras nações cria oportunidades para aqueles que já há muito tempo denunciam Trump e seus métodos: a esquerda. Ao pensar na América e apenas na América, Trump agrada, talvez, a direita conservadora americana, mas entorna o caldo para seus fãs em outros países. No vizinho Canadá, por exemplo, os liberais venceram as eleições após terem ficado por muito tempo atrás nas pesquisas. Uma gestão desgastada do social-democrata Justin Trudeau deu lugar ao novo primeiro-ministro Mark Carney que teve no mote do enfrentamento a Trump sua chave para derrotar os conservadores, que eram favoritos, e manter o cargo. No outro vizinho, o México, a presidente esquerdista Claudia Sheinbaum, aliada de todos os populistas latino-americanos, subiu de 73% para 85% de aprovação, em grande parte empurrada para cima pelo “fator Trump”. Já na Austrália, o mesmo “fator” agiu a favor da reeleição do primeiro-ministro Anthony Albanese, de centro-esquerda, que, assim como seu correspondente canadense, vinha atrás nas pesquisas e se recuperou após as ações de repercussão internacional do presidente americano.

No Brasil, a esquerda pode perder as eleições de 2026 por conta de outros fatores, mas o enfrentamento político com Trump pode lhe ser útil, enquanto a direita não terá como defender as tarifas de seu aliado contra os produtos tupiniquins. Metade dos brasileiros, segundo a AtlasIntel, acreditam que o país deve retaliar as medidas de Trump. E provavelmente, se estas se tornarem mais duras, o número deve subir proporcionalmente, afinal, se Trump faz endurecer o nacionalismo nos Estados Unidos, este crescerá também em outros países como reação.   

Entretanto, ao contrário do que ocorre nos EUA, o nacionalismo em outros países será mais facilmente instrumentalizado pelas forças políticas de centro-esquerda, que podem vir a usar Trump como um inimigo comum entre elas e a população, o transformando em um grande cabo eleitoral às avessas.